Criticas ao Barbeiro de Sevilha  

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"O Barbeiro de Sevilha" - A Revolução a rir

No Auditório Lourdes Norberto, cruzam-se as emoções do Teatro e as palavras de liberdade que marginam todo o percurso de Beaumarchais.
Em "O Barbeiro de Sevilha", que Armando Caldas põe à medida do palco de Linda-a-Velha, são os aromas dessa liberdade que enchem a sala de um grito feito da sátira mortífera e premonitória que identifica o autor à porta da Revolução Francesa. Rosina (Neca Tomás) e Bártolo (Fernando Tavares Marques), a jovem e o velho tutor prepotente e possessivo, servem o pleno da metáfora de um poder gasto, caduco e condenado, que a solidariedade revolucionária e a inteligência de Fígaro (Hélder Anacleto) aniquila e reduz ao ridículo de todas as formas de ditadura, impondo a verdade livre, elevada à paixão do Conde de Almaviva (Miguel de Almeida).
Adaptado por Christophe Laubin, traduzido de Dulce Moreira, com dramaturgia e encenação de Armando Caldas, "O Barbeiro de Sevilha" confirma em Linda-a-Velha a verdade universal e a intemporalidade do Teatro.
"Só é possível corrigir os homens, fazendo-os ver-se tais como são". A citação é do próprio Beaumarchais e, da transição do desenho rítmico da comédia francesa do século XIX para o Intervalo Grupo de Teatro, em Linda-a-Velha, subsistem no texto do autor todos os valores, que Armando Caldas arruma no tempo.
O espectáculo é obrigatório e está em cena até Abril, às sextas e sábados, às 21h.30, e às 16.00 horas, todos os domingos.

Carlos A. Saraiva em Jornal de Oeiras

Estreou "O BARBEIRO DE SEVILHA"  

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"O Barbeiro de Sevilha" é uma peça importante da história do Teatro escrita no período pré Revolução Francesa. É uma obra que apesar de tantas hesitações e obstáculos para ser estreada, acabou por sê-lo em 23 de Fevereiro de 1775.

Beaumarchais é filho de um relojoeiro, sobe na sociedade apesar de levar uma vida aventurosa de homem de várias profissões, demonstrando uma grande capacidade para intervir na vida pública. Viajou muito, foi processado judicialmente várias vezes. Foi negociante e também diplomata. Foi músico e revolucionou o Teatro do seu tempo. Foi adepto das Teorias de Diderot e Voltaire advogando um Teatro ao serviço da filosofia, moralizador, de forma a educar a sociedade do seu tempo, mostrando os seus defeitos através de novos conceitos cénicos e de comédia. Utiliza a sátira política e social usando uma linguagem que caracteriza a construção das personagens e simultaneamente, constrói a intriga, o encadeamento das estórias que originou a uma série de situações cómicas, que provocaram posteriormente a evolução do "vaudeville".
o tema de " O Barbeiro de Sevilha" é a estória de uma jovem, de nome Rosina, que quer a liberdade e o desejo de amar, mas está prisioneira de um velho, de nome Bártolo, que tem por ela um amor possessivo e paranóico criando na sua casa um verdadeiro "cárcere", pretendendo que o mesmo seja
impenetrável, sujeito à submissão de Rosina ao "direito do mais forte". Surge então outro jovem, o Conde de Almaviva, que será a chave para a libertação da rapariga das garras do velho ciumento patético.

Entretanto, temos um Fígaro preponderante e central nas decisões do desenvolvimento da intriga: inteligente, alegre, esperto e inveterado na sua filosofia, ele tem consciência da classe a que pertence, o que me parece ser já um sintoma duma era a nascer (Revolução Francesa). Fígaro não tem nada a perder, tem tudo a ganhar. Não recua quando é preciso ser audaz e atrevido. É um equilibrista, muito lúcido quando convive com os que serve. Gosta da vida e vive-a.

A peça termina com a certeza da juventude ter o direito à liberdade e ao amor.

Beaumarchais foi dos primeiros no Teatro, a ser eco do espírito da Revolução Francesa. A minha encenação segue as imagens teatrais tradicionais, desenvolvendo psicologicamente as personagens, os seus comportamentos face ao amor, à possesividade, à liberdade, à crítica, imprimindo um ritmo de representação adequado à comédia francesa do século XIX.

Com este espectáculo, o INTERVALO, procura levar a todos os cidadãos um contributo para a sua cultura geral, no momento em que nos preparamos para comemorar 38 anos.
Armando Caldas